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O Escafandro e a Borboleta [Jean-Dominique Bauby]

À la française 27 de novembro de 2011 Aline T.K.M. 8 comentários

Em 8 de dezembro de 1995, um acidente vascular cerebral mergulhou brutalmente Jean-Dominique Bauby em coma profundo. Ao sair dele, todas as suas funções motoras estavam deterioradas. Atingido por aquilo que a medicina chama de “locked-in syndrome” (literalmente, trancado no interior de si mesmo), ele não podia mexer-se, comer, falar e nem mesmo respirar sem a ajuda de aparelhos. Em seu corpo inerte, só um olho se mexia. Esse olho – o esquerdo – é o vínculo que ele tem com o mundo, com os outros, com a vida. Com esse olho, ele pisca uma vez para dizer “sim”, duas para dizer “não”. Com esse olho, ele chama a atenção de seu visitante para as letras do alfabeto que lhe são ditadas, formando assim palavras, frases, páginas inteiras... Com esse olho, ele escreveu este livro: todas as manhãs, durante semanas, foi memorizando as páginas antes de ditá-las e de corrigi-las, depois.

Do interior da bolha de vidro de seu escafandro, onde voam borboletas, ele nos envia cartões-postais de um mundo que só podemos imaginar. Quando só restam palavras, nenhuma palavra é demais.

Jean-Dominique Bauby nasceu em 1952. Jornalista, tinha dois filhos e era redator-chefe da revista Elle francesa. Faleceu dez dias depois da publicação do livro, em 1997.


Desde que vi o filme, de mesmo título e dirigido por Julian Schnabel (2007), tive uma vontade louca de ler o livro. E não me arrependi.

Cartaz do filme - imperdível
Apesar do contexto trágico em que foi escrito, O Escafandro e a Borboleta não é um livro para se debulhar em lágrimas – pelo menos, isso não aconteceu comigo. A partir da condição do autor e de suas narrações a respeito do cotidiano visto de dentro do seu escafandro, somos inseridos em um rico processo de auto-reflexão. Narrado em primeira pessoa, o livro traz uma grande lição de vida embutida nas entrelinhas. Contudo, ao contrário do que muitos possam vir a pensar, não chega nem perto do piegas e não contém excessos de sentimentalismo.

Uma característica interessante é que os capítulos são meio que “independentes” entre si; em cada um deles (que, em muitos momentos, assemelham-se a crônicas), um aspecto diferente é abordado sob a ótica – genial, eu diria – do autor. Desta forma, a leitura não se aproxima, em nenhum momento, do tédio e não tem enrolações de nenhuma espécie. Mesmo em um contexto denso e considerando seu triste estado, Jean-Do tem um senso de humor incrível. Por vezes, utiliza da ironia e do sarcasmo, revestindo seu sofrimento em uma roupagem mais “leve”. Ainda assim, nunca deixamos de notar que o desespero existe e é grande. Importante: o livro não é uma biografia (apesar de eu ter colocado "biografia" como uma das tags, simplesmente por seu fator real), porém tudo o que lemos é real e foi escrito pelo próprio Jean-Dominique, orientando-se pelo alfabeto ditado e usando seu olho para indicar as letras.

Para terminar, O Escafandro e a Borboleta é realmente uma daquelas obras que, em algum momento da vida, todo mundo deveria ler.

Título: O Escafandro e a Borboleta
Título original: Le Scaphandre et le Papillon
Autor(a): Jean-Dominique Bauby
Editora: Martins Fontes
Edição: 2009
Ano da obra: 1997

RESULTADO: sorteio "O Voo da Estirpe"

Sorteios e concursos 26 de novembro de 2011 Aline T.K.M. 1 comentário

Dia de resultado de sorteio! =D

Quem leva o livro O Voo da Estirpe, de Adriana Vargas Aguiar, é...

MARÍLIA MACIEL

Parabéns!!!! Você tem 3 dias para responder ao e-mail que enviei, informando seus dados para o envio do livro. O livro será enviado diretamente pela autora.

 


E não deixem de participar do super sorteio do livro Ainda Não Te Disse Nada, de Maurício Gomyde, e ainda poderão concorrer a um iPad2! Seria O presente de Natal, não?! =P

Concurso cultural: "Julieta Imortal"

Sorteios e concursos 25 de novembro de 2011 Aline T.K.M. 2 comentários

Não deixem de participar do concurso cultural "Julieta Imortal", promovido pela editora Novo Conceito.

O concurso começou ontem (24 de novembro) e vai até o dia 02 de dezembro de 2011.

REGULAMENTO DO CONCURSO

Veja abaixo como participar:
(clique na imagem para vê-la ampliada)




Cinema = Livro + Filme

À la française 21 de novembro de 2011 Aline T.K.M. 5 comentários

Com todo esse burburinho acerca da estreia de Amanhecer - parte I, 4º filme da saga Crepúsculo, acho legal notarmos também outras adaptações literárias interessantes que estão nos cinemas ou que chegarão nas próximas semanas.

FILME: A PELE QUE HABITO (La Piel que Habito, de Pedro Almodóvar, Espanha, 2011)
Recomendadíssimo, mas minha opinião é suspeita, já que sou fã do diretor. Sendo um filme de Almodóvar, já adianto que tem características peculiares. Ama-se ou odeia-se, não há meio-termo. Quanto ao livro: preciso lê-lo!

Sinopse: O doutor Robert Ledgard passou doze anos se dedicando à criação de um novo tipo de pele depois que sua mulher sofreu queimaduras fatais num acidente de carro. Essa nova pele é sensível ao toque, porém resistente a qualquer tipo de agressão. Durante esses anos, alguns jovens da região desapareceram, nem todos por vontade própria. Uma delas é Vera, cobaia mantida refém pelo médico e por sua assistente, Marilia, em um quarto de sua mansão, El Cigarral.
6º filme em que Almodóvar e Pedro Bandera trabalham juntos, A Pele que Habito foi selecionado para a competição oficial do Festival de Cannes 2011.

LIVRO: Tarântula (de Thierry Jonquet, ed. Record)

FILME: A CHAVE DE SARAH (Elle s’Appelait Sarah, de Gilles Paquet-Brenner, França, 2011)
Já tenho a edição em francês do livro, esperando para ser devorada!

Sinopse: Julia (Kristin Scott Thomas) é uma jornalista que vê a sua vida envolvida com a de uma garota chamada Sarah: uma menina que teve a família destruída por nazistas, na maior perseguição de judeus na França. Às vezes o passado pode desvendar o futuro.
O filme foi vencedor do Prêmio da Audiência e do troféu de Melhor Diretor do Festival de Cinema de Tóquio 2010

LIVRO: A Chave de Sarah (de Tatiana de Rosnay, ed. Suma de Letras)

FILME: UM DIA (One Day, de Lone Scherfig, EUA/Reino Unido, 2011)
Não poderia deixar de mencionar... Praticamente um clássico moderno, o livro já é queridinho de muita gente – e já está entre meus favoritos.
*Estreia prevista para 2 de dezembro.


Sinopse: Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgees) se conheceram na faculdade, em 15 de julho. Esta data serve de base para acompanhar a vida deles ao longo de 20 anos. Neste período Emma enfrenta dificuldades para ser bem sucedida na carreira, enquanto que Dexter consegue sucesso fácil, tanto no trabalho quanto com as mulheres. A vida de ambos passa por várias outras pessoas, mas sempre está, de alguma forma, interligada.

LIVRO: Um Dia (de David Nicholls, ed. Intrínseca)

FILME: O ÚLTIMO DANÇARINO DE MAO (Mao’s Last Dancer, de Bruce Beresford, Austrália, 2009)
Li o primeiro capítulo em um livreto, há alguns anos, e tenho muita vontade de ler o livro todo. O filme parece ser verdadeiramente belo: só pelo ballet é certo que valerá a pena conferir!
*Estreia prevista para 9 de dezembro.


Sinopse: Com apenas 11 anos, um garoto chinês é levado de um vilarejo pobre para estudar balé na escola de dança Madame Mao, em Pequim. Em 1979 entra para a Companhia Houston Ballet (Texas, EUA). Lá, apaixona-se por uma bailarina e decide não mais voltar. A situação acarreta um desconforto diplomático entre as nações e faz com que o bailarino fique proibido de voltar à China para rever seus familiares.
História real baseada na autobiografia de Li Cunxin.
Premiado na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2009, como Melhor Filme na opinião do público. Premiado pelo público e por sua trilha sonora no Australian Film Institute. O filme foi exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio de 2011.

LIVRO: Adeus China: o último bailarino de Mao (de Li Cunxin, ed. Fundamento)


Não curti o livro... e agora?

Blogando 18 de novembro de 2011 Aline T.K.M. 6 comentários

A literatura nacional, felizmente, tem ganhado cada vez mais espaço nos blogs literários. Resenhas surgem a todo momento e, pessoalmente, adoro conhecer as novidades do universo literário brasileiro – principalmente se são obras que ainda não encontramos ou que não têm tanto destaque nas livrarias. Não é raro, porém, notar certa reserva em relação às resenhas de literatura nacional contemporânea, principalmente no caso de parcerias diretamente com os autores. Antes de tudo, penso que estas parcerias são realmente muito bacanas, já que são o tipo de iniciativa em que todos saem ganhando: o blog ganha material para desenvolver conteúdo, o autor divulga seu trabalho em um ambiente bastante rico (não se pode negar que a blogosfera reúne um poderoso público formador de opinião) e o leitor tem acesso fácil às novidades da literatura nacional.

Que o nosso país está repleto de talentos literários (novos ou consagrados), disto não há dúvidas. Mas vez ou outra me deparo com resenhas que parecem omitir pontos importantes da opinião do blogueiro sobre determinado livro. Comentários medidos demais e receio em criticar (o que vai contra a ideia de resenha, já que é para isto que serve, para criticar – positiva ou negativamente – alguma coisa) são exemplos de características que me fazem pensar que dada resenha não expõe a opinião de quem a escreveu com 100% de sinceridade. Algumas vezes, a impressão que dá é a de que a obra não agradou, mas ao invés de lermos opiniões sinceras (e justificadas), encontramos resenhas que tecem comentários positivos (ou imparciais) desacompanhados de argumentos e/ou justificativas, resultando em textos insossos que pouco nos dizem a respeito do livro em questão.

Por que isso acontece? Ou ainda, isso realmente acontece? Eu, pelo menos, penso que sim. Esse tipo de atitude teria relação com o receio de, ao criticar negativamente um livro, ter sua crítica estendida ao autor, questionando sua capacidade profissional? Existe mesmo essa extensão da crítica, sua compreensão distorcida (pelos autores e leitores) a ponto de transformá-la erroneamente em ofensa profissional e, até mesmo, pessoal?

São questões que requerem reflexão e que envolvem a maneira como uma resenha é percebida pelos diferentes públicos envolvidos em um blog – simples leitores, “leitores-blogueiros”, autores, editoras.
Eu acredito que este tipo de receio é real, assim como também existem as compreensões distorcidas das resenhas negativas. Mas acredito também que o principal objetivo de um blogueiro é expor sua opinião – com respeito e dando abertura a possíveis opiniões divergentes –, e esse objetivo não deveria jamais se perder no meio do caminho.

É por isso que, considerando toda essa situação e suas possíveis consequências (que podem ser várias, principalmente ligadas à relação que permeia as parcerias), realmente me dá gosto ler uma boa resenha que exponha opinião negativa bem argumentada. Porque, óbvio, uma coisa é certa: sempre haverá opiniões desfavoráveis. Se ainda não inventaram algo na vida que seja capaz de agradar a todo mundo, não vejo razão de achar que com a literatura seja diferente.

SORTEIO: Ainda Não Te Disse Nada + concorra a um iPad2 - ENCERRADO

Sorteios e concursos 15 de novembro de 2011 Aline T.K.M. 9 comentários

PARTICIPAÇÕES ENCERRADAS

Sorteio IMPERDÍVEL!! Se você curtiu O Mundo de Vidro, prepare-se...

Em parceria com Maurício Gomyde, o blog sorteará o novo livro (autografado!) do autor, Ainda Não Te Disse Nada (prometo review logo, logo). E TEM MAIS: participando deste sorteio, você ainda concorre a um iPAD2 que o Maurício Gomyde sorteará em seu próprio blog!

Confira a seguir como participar do sorteio do livro e do iPad2.


SORTEIO DO LIVRO:

REGRAS

1 – Seguir este blog.
Para seguir, procure a caixinha abaixo no menu lateral do blog e clique em “Seguir”.
*Não precisa ter blog para seguir, basta ter uma conta em qualquer um destes sites: Google/Twitter/Yahoo.


2 – Ter um endereço no Brasil.

3 – Seguir @MauricioGomyde no Twitter E curtir a página do autor no Facebook:



(www.facebook.com/MauricioGomydeEscritor)


4 – Preencher o formulário no final deste post.


Seguiu todos os passos acima? Então você já está participando do sorteio do livro!
Confira abaixo como ter mais chances de ganhar!


CHANCES EXTRAS
Preencha o formulário +1 vez a cada item cumprido:

- Divulgar o sorteio no Twitter com a frase abaixo:
#SORTEIO do livro Ainda Não Te Disse Nada e concorra a um iPad2!! Participe no blog Escrevendo Loucamente: http://tinyurl.com/d298sv5
Atenção: máximo de 1 tweet por dia.

- Seguir @Aline_TKM

- Divulgar o link do sorteio no Facebook:
http://escrevendoloucamente.blogspot.com/2011/11/sorteio-ainda-nao-te-disse-nada.html

- Seguir o blog do autor Maurício Gomyde

- Divulgar o banner do sorteio em seu blog:



 SORTEIO: Ainda Não Te Disse Nada + concorra a um iPad2” style=


PARTICIPAÇÕES ENCERRADAS


SORTEIO DO IPAD2:
REGRAS: participar do sorteio do livro e, portanto, seguir as regras deste.
Já está participando do sorteio do livro? Para concorrer ao iPad2, basta preencher o formulário com seu nome, e-mail e o nome deste blog (Escrevendo Loucamente) no blog do autor.
CLIQUE AQUI PARA ACESSAR O FORMULÁRIO DO SORTEIO IPAD2


IMPORTANTE:
- Serão aceitas participações até 19/12/2011.
- O resultado do sorteio será publicado aqui no blog até o dia 22/12/2011.
- O sorteio valerá 1 exemplar autografado do livro Ainda Não Te Disse Nada, de Maurício Gomyde, a ser enviado pelo blog diretamente ao sorteado.
- Enviarei um e-mail ao vencedor(a), que deverá ser respondido em até 3 dias. Não havendo resposta dentro do prazo, será realizado um novo sorteio.
- O sorteio será realizado através do site Random.org
- A participação no sorteio do iPad2 é facultativa, porém para participar, é obrigatória a participação no sorteio do livro. O sorteio e premiação do iPad2 é de responsabilidade do autor Maurício Gomyde.

Lucíola [José de Alencar]

Clássicos 12 de novembro de 2011 Aline T.K.M. 15 comentários

Independente e altiva, Lúcia, a mais rica cortesã do Rio de Janeiro, não se deixava prender a nenhum homem. Até conhecer Paulo. A partir daí, ela se vê totalmente entregue; tudo o que quer é permanecer junto dele. Esse romance passa a ser o assunto mais comentado na Corte. Os comentários chegam aos ouvidos de Paulo e o incomodam profundamente. Valeria a pena romper seu relacionamento só para manter a boa imagem diante das pessoas?

Clássico do Romantismo brasileiro, Lucíola retrata o amor entre Lúcia, cortesã de luxo, e Paulo no Rio de Janeiro do século XIX. No decorrer do livro acompanhamos a transformação (“purificação”) de Lúcia. O livro faz parte dos “perfis de mulheres” de Alencar (junto com Diva, A Pata da Gazela e Senhora).
Na época, o romance foi bastante criticado por mostrar o problema social da prostituição, que era conhecido porém tratado com indiferença. Houve críticas também devido ao não uso do Português clássico.

Lucíola é narrado em primeira pessoa por Paulo, sendo um relato de seu relacionamento com Lúcia que ele escreve a uma suposta senhora. Com isso, ele tem por objetivo mostrar que mesmo levando uma vida leviana é possível manter a nobreza da alma.

Esse é um livro que não li quando devia (lá no ensino médio); na época julguei a leitura desnecessária devido a uma super aula explicativa a respeito do mesmo (apesar de ser uma leitora ávida desde a infância, claro que eu torcia o nariz para alguns livros de leitura obrigatória, como todo adolescente, imagino eu). Mas o interessante disso é que não me arrependo de não tê-lo lido então: essa leitura, hoje, me proporcionou um prazer que na época acredito que não teria sido igual.

Adianto que não é um livro difícil ou enfadonho. A narrativa é gostosa e flui com facilidade, os personagens são envolventes (ainda que, muitas vezes, incompreensíveis em seus atos) e a história de amor entre os protagonistas é particularmente bela.

Edição que li: traz um bom
material de apoio didático
O mais interessante neste romance urbano é notar as particularidades comportamentais da sociedade da época, além da hipocrisia e falso moralismo retratados. A preocupação com a reputação e a boa imagem perante a sociedade faz com que Paulo aja de forma contraditória, causando complicações e sofrimento à relação com Lúcia. Interiormente, Paulo mostra-se mesmo bem frágil no que diz respeito ao amor. Apesar de ser narrado por Paulo, percebemos que Lúcia demonstra ter consciência de seus atos e um constante sentimento de culpa que a atormenta. Nela, anjo e demônio vivem e dividem o mesmo espaço. O amor, através de Paulo, resgata sua pureza, sendo o agente de sua redenção.

Apesar da maioria de nós conhecermos já o enredo e o final de Lucíola devido a certa familiaridade com a obra no período escolar, recomendo fortemente a leitura. Se você ignorou essa leitura na escola (como eu fiz), leia-a agora: considero um desperdício não ler algo de tamanha qualidade. E se você já leu a obra há alguns anos atrás, no ensino médio, leia-a novamente: certamente a leitura será feita sob um novo e mais prazeroso olhar.

(Destaco em especial a edição que li – esta da capa logo acima, à direita – que, mesmo sendo meio velhinha, traz uma introdução bastante didática a respeito do momento histórico e do Romantismo, além de informações biográficas do autor. Também conta com notas de rodapé muito úteis durante a leitura.)

Título / Título original: Lucíola
Autor(a): José de Alencar
Editora: Moderna
Edição: 1993 (Coleção Travessias)
Ano da obra / Copyright: 1862

O Bigode [Emmanuel Carrère]

À la française 4 de novembro de 2011 Aline T.K.M. 13 comentários

Em uma manhã qualquer, um homem decide raspar o bigode que ele vinha usando há 10 anos. Com ato tão simples pretende mudar um pouco, surpreender a mulher, os amigos. Porém ninguém percebe a mudança; afirmam, ainda, que ele jamais usou bigode. Ele começa, então, a recolher provas da existência do bigode, dando início a questionamentos e confusão, que nos fazem caminhar da realidade ao delírio sem saber de qual lado ficar.

Estamos diante de uma obra, no mínimo, intrigante. O Bigode, de Emmanuel Carrère, nos mostra um protagonista muito bem elaborado, porém, e por conta do próprio enredo, há a constante sensação de ausência da última peça de um quebra-cabeça. E é daí que vem o ponto alto do livro: o leitor não consegue desgrudar das páginas, tomado pela ânsia de entender o que se passa com o ex-bigodudo e o mundo ao redor dele.

O leitor é arrastado pelo redemoinho psicológico que envolve a trama. As questões são muitas, e colocamos à prova – junto com o protagonista – a veracidade dos fatos e a integridade psicológica dos personagens. Inclusive não descartamos a possibilidade de alguma conspiração contra nosso pobre protagonista.

O livro é narrado em terceira pessoa, mas sempre através do olhar do protagonista; é como se tudo nos fosse contado sob a perspectiva do personagem central – há momentos em que nos sentimos dentro de sua mente, inclusive. Os demais personagens têm seu papel no enredo, mas nada tão crucial. Agnes, a mulher do protagonista, tem algum destaque na trama, mas ainda assim, tudo – e todos – gira em torno do grande conflito que envolve o personagem principal, o homem que raspou o bigode.

A leitura é super fluida e o livro tem um ritmo acelerado. O aspecto psicológico (questionamentos, hipóteses perante os fatos) domina a narrativa. Merecem destaque as descrições presentes no livro, cruas e diretas, porém absolutamente carregadas de força, ou ainda demonstrando uma calmaria singular.

Não posso deixar de mencionar que o mais interessante desta leitura é tentar compreender o que a figura do bigode representa. Muito além de ser apenas um tufo de pelos, o bigode nos remete à identidade do personagem. Indo um pouco além, diria que esta identidade representada pelo bigode está mais próxima de ser aquilo que a sociedade moldou no personagem, um papel que ele representa para que as expectativas da vida cotidiana sejam atendidas. Um papel que todos nós representamos e do qual, muitas vezes, nos tornamos indissociáveis. Raspar o bigode seria mais do que uma simples fuga para o personagem do livro, seria libertar-se das pressões e cobranças – parar de andar conforme o fluxo para recuperar vontade própria e ir de encontro ao indivíduo real por trás do “disfarce” de todos os dias. Notamos, porém, um despreparo interno da parte dele em relação a esta libertação, uma visível impossibilidade de desvincular-se do papel que lhe foi atribuído na sociedade. A partir daí, a confusão mental, o possível delírio, encontra lugar para instalar-se, dada a busca desorientada do personagem por sua própria identidade – a real.

Nem preciso dizer que esta é uma leitura super recomendada. As 140 páginas, que já não são muitas, têm tudo para serem vorazmente devoradas por aqueles que apreciam conflitos e incertezas quanto à realidade – na literatura, claro.

Curiosidade: o livro teve uma adaptação para o cinema feita pelo próprio autor, também cineasta. La Moustache - que leva o mesmo nome do livro - foi premiado no Festival de Cannes de 2005.

Título: O Bigode
Título original: La Moustache
Autor(a): Emmanuel Carrère
Editora: Rocco
Edição: 2002
Ano da obra / Copyright: 1986
Páginas: 142

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