Stephen C. McQueen (nenhuma relação com o Stephen McQueen famoso, infelizmente) mora em uma quitinete que ele insiste em chamar de estúdio no mais afastado subúrbio de Londres e tem um talento especial para a falta de sorte. E é o ator substituto de Josh Harper, que interpreta Lorde Byron na peça "Louco, mau e perigoso de se conhecer". No entanto, os sentimentos por Nora, a esposa de Josh, colocarão em conflito as escolhas de Stephen, e podem pôr em risco a grande chance de sua carreira.
Como já esperado, encontramos outro dos protagonistas de Nicholls, um cara de boa índole porém fracassado em quase todos os sentidos da palavra.
De maneira simples e ágil, acompanhamos as derrotas profissionais, familiares e amorosas de Stephen C. McQueen, um ator que só consegue papéis duvidosos e que é o substituto do queridinho da mídia Josh Harper em uma peça sobre a vida de Lorde Byron. Só que Josh nunca fica doente, nunca mesmo, assim que Stephen ainda não teve oportunidade de subir ao palco no papel principal.
Repleta de passagens engraçadas protagonizadas por personagens dotados de certa esquisitice, a trama diverte. Compararia-a facilmente com um daqueles filmes de comédia dramática que a gente encontra por aí, com um protagonista desajeitado e bonzinho.
Aliás, Stephen é exatamente isso, um bonzinho desajeitado, meio esquisito (não “esquisito-cool”, mas apenas “esquisito-esquisito”) e mestre em passar por situações que causam extrema vergonha alheia no leitor. Só não supera o Brian de Resposta Certa, do mesmo autor – nunca senti tanta vergonha alheia como com as peripécias do Brian.
Claro que Stephen irá se apaixonar sem ser correspondido! Esse tipo de coisa é regra em histórias como esta. Os clichês, apesar de presentes, não assumem forma negativa em momento algum. Nicholls trouxe, de novo, situações inusitadas que – sei que é estranho dizer – são e, ao mesmo tempo, não são clichês. Ou clichês um pouco menos óbvios. Ou ainda, clichês bem utilizados.
Um sujeito que parece aguardar eternamente seu deslanchar, sua grande chance. Um mero substituto do protagonista de uma peça, que nessa mesma peça interpreta uma figura fantasmagórica em malha preta e máscara com apenas alguns segundos de palco; que é sempre o Morto, o Cadáver ou a Vítima; que atua na pele de um esquilo falante em vídeos infantis que tenta a todo custo esconder. Um cara que já não é tão jovem, com uma filha de sete anos e um divórcio que ainda não conseguiu superar; que se apaixona justamente por Nora, a mulher de seu rival, o 12º Homem mais Sexy do Mundo...
Stephen poderia ser apenas um protagonista loser e irritante. Mas não; apesar da falta de traquejo do personagem e do tom hilário da trama, Stephen acaba por surpreender e faz com que O Substituto traga uma mensagem válida e um “algo a se pensar” além das risadas. No fim das contas, até que ponto se pode ir em nome da carreira dos sonhos?
LEIA PORQUE...
Os personagens e situações criados por David Nicholls garantem boas risadas, sua escrita é ágil, com bastante diálogo e tiradas interessantes.DA EXPERIÊNCIA...
Por que perder tempo com leituras leves e ruinzinhas, se a gente pode optar por leituras leves e legais? Pois é, O Substituto é uma dessas leituras leves e boas, um livro espirituoso e nada vazio.FEZ PENSAR EM...
Livrar-se de algo jogando no Tâmisa! O alívio de vê-lo ir embora com a correnteza, com o vento. Uma sensação que eu gostaria de provar um dia, e que fosse tão libertadora quanto o foi no livro.Título: O Substituto
Título original: The Understudy
Autor(a): David Nicholls
Editora: Intrínseca
Edição: 2013
Ano da obra: 2005
Páginas: 320